Por João Carlos Teatini de Souza Clímaco*

 

Foi uma enorme honra participar da inauguração do Centro Olímpico da Universidade de Brasília, em setembro de 1971, no 1º. Torneio Universitário do Centro-Oeste, como atleta de futebol de salão da Universidade Federal de Goiás. Essa honra não foi somente pelo vice-campeonato, atrás de Minas Gerais, mas por vários fatores que exponho a seguir.

 

As equipes de todas as modalidades foram, também, pioneiras na ocupação do Alojamento Estudantil, hoje CEU, ‘lutando’ com os pernilongos. Sorte que ao irmos almoçar no antigo Bandeijão, hoje demolido, para ajudar a espantar os malfeitores adquirimos os afamados espirais verdes no mercado ao lado, um prédio de madeira idêntico ao anterior ‒ pequeno e muito bonito ‒, chamado OCA II, onde hoje funciona a Coordenadoria de Proteção ao Patrimônio da Prefeitura do Campus.

 

O Centro Olímpico é parte do projeto de criação da UnB, de 1962, mas inaugurado apenas em 1971, e no ano seguinte tendo início o curso de graduação em Educação Física. O objetivo do Centro seria treinar atletas para representar a instituição, e mesmo o Brasil, em competições e jogos, nacionais e internacionais. Por esse motivo, assim como o Hospital Universitário, deveria receber recursos federais e distritais para uma manutenção adequada a tão nobre finalidade, mesmo sabendo serem os do HUB insuficientes.

 

Em março de 1974, ingressei na UnB como professor do Departamento de Engenharia Civil da Faculdade de Tecnologia, onde me aposentei em 2013. Fui presidente da Associação dos Docentes ‒ ADUnB, de 1984/86, e na militância nos ‘anos de chumbo’ tive a satisfação de conviver com vários colegas da FEF, entre os quais menciono o(a)s amigo(a)s William Passos (in memorian), Maria Solange Passos e Antônio Carlos Balthazar.

 

Nos idos remotos da vinda para Brasília, o ‘CO’ era o clube popular da Asa Norte, onde além dos estudantes e famílias, com entrada franca nos finais de semana, usavam a maioria das dependências. Faziam piqueniques nos gramados e cantorias, sem problemas ou violência ‒ tempos outros! Disputei ali, também, vários torneios em equipes de alunos da Engenharia Civil, de futsal e campo, num dos quais derrotamos um time misto de países da “SudAmerica”, que na semifinal terminou em pancadaria, saindo até em jornais da cidade (1978/79, eu acho). Na final, perdemos para o time da Educação Física, pois na véspera alguns atletas nossos exageraram na comemoração (apenas eles)...

 

Pela minha atuação acadêmico/profissional em manutenção e recuperação de estruturas de concreto, fui instado, várias vezes, pela Prefeitura do Campus, e mesmo por colegas da FEF, a emitir opiniões e pareceres sobre manifestações de danos em partes do Centro Olímpico. Grande parte das edificações de Brasília daquela época padece de ‘abusos’ cometidos com o emprego do concreto aparente, sobre o qual não havia conhecimento suficiente nas normas técnicas sobre danos relativos a fenômenos ao longo do tempo, como a retração e fluência (deformação lenta) do concreto, entre outros. Esse fato agravou os problemas de manutenção do Centro, mencionados no terceiro parágrafo deste texto, valendo afirmar que a maioria dos monumentos da cidade com esse recurso arquitetônico já passou por pintura, pelo menos.

 

No período de 2011/14, fui diretor de Educação a Distância da Capes/MEC, coordenando o Sistema Universidade Aberta do Brasil, instituído em 2006. Sendo a UnB uma das principais instituições federais a integrar a UAB, destaca-se que a FEF foi a única do país com curso de licenciatura em Educação Física na modalidade EaD aprovado no 1º. Edital de Seleção do MEC, visando à formação superior de professores das redes públicas, da pré-escola ao ensino médio e educação de jovens e adultos. Naquela ocasião, pude conviver com colegas docentes da FEF, que assumiram essa proposta corajosa para a época, mas que se mostrou indispensável neste momento da pandemia, sem necessidade tão longa e sofrida em nosso país.

 

Mais recente, em 2020, comentei com o prof. Paulo César Silva, colega da Engenharia Civil, de ter lido matéria na página web da UnB com a profa. Ingrid Wiggers, sobre os 50 anos do CO e falei sobre minha participação naquele Torneio Universitário. Dias depois, recebo uma ligação da professora, convidando-me a contribuir com os eventos comemorativos. Contei-lhe, então, da medalha de conquista do 2º. Lugar no Torneio com o futsal, em 05/09/1971, que ainda guardava e me dispunha a doar ao CemeFEF.

 

A seguir, a profa. Alessandra Coimbra da FEF enviou-me convite para gravar um vídeo, como parte dos depoimentos de professores pioneiros do CO/UnB, que foi ao ar em 02/09/2020. As incansáveis professoras, no entanto, não pararam aí e me pediram este texto, para constar do evento dos 50 anos.

 

Para encerrar, faço minhas as palavras de um trecho do final do artigo ‘Efemérides’ das professoras Ingrid D. Wiggers e Alessandra P. Coimbra, de 19/07/2021: “A memória tem um poder de construir identidades de grupos e instituições. Ao reconstruir o passado a partir da história vivida, construímos nossa própria identidade [...]”.

 

Acrescento que relembrei minha história com o Centro Olímpico da UnB, com muito prazer, desde o final da graduação em Engenharia Civil, em 1971, até o presente e, assim, agradeço às colegas por este desafio.

 

*João Carlos Teatini de Souza Clímaco é professor do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da Faculdade de Tecnologia da Universidade de Brasília (UnB). Engenheiro Civil pela Universidade Federal de Goiás (UFG), mestre em Ciências (Estruturas) pela Coordenação dos Programas de Pós-Graduação em Engenharia COPPE/UFRJ, Ph.D. em Estruturas pela Polytechnic of Central London e pesquisador visitante na Universidad Nacional de Educación a Distancia da Espanha. Atua nas áreas de fundamentos de projeto, avaliação de conformidade e reforço de estruturas de concreto; manutenção e recuperação de monumentos do patrimônio arquitetônico de Brasília; educação a distância e ensino de Engenharia.